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Invisibilidade da mulher negra foi destaque no ‘Diálogo dos Saberes’
Com a proposta de trazer a academia para dentro do Ministério Público, o ‘Diálogo dos Saberes’ abordou ontem, 08, o tema ‘Mulheres e Identidades’. “Um dos nossos principais objetivos é refletir sobre quantas identidades cabem em uma só mulher”, destacou a coordenadora dos grupos de Atuação Especial em Defesa da Mulher e da População LGBT (Gedem) e de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (GEDHDIS), promotora de Justiça Lívia Vaz. “O conceito de identidades sobrepostas, que passa pela ideia de junção e conexão de várias identidades em uma pessoa só, muitas vezes pode trazer vulnerabilidades sobrepostas também”, salientou ela, frisando que a identidade da mulher negra ainda sofre de uma invisibilidade na sociedade brasileira e precisa ser pautada. “Os poderes públicos precisam reconhecer essas especificidades e trazer uma resposta que atenda às expectativas dessa população, sob pena de termos a persistência dessa desigualdade de fato”, concluiu Lívia Vaz.
O debate foi mediado pela doutoranda em estudos de gênero, mulheres e feminismo da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Carla Akoritene e teve como palestrantes as professoras e estudiosas Catarina Martins, Dayse Sacramento e Zekinda Barros. Com base na perspectiva da epistemologia feminista negra, a professora Carla Akotirene usou a interseccionalidade como técnica discursiva para argumentar que “qualquer categoria que se proponha a dar conta de todas as subjetividades e experiências das mulheres vai acabar suprimindo o lugar social e político das mulheres negras”. Ela argumentou, acrescentando que “é preciso pensar identidade como resultante de um processo de colonização e escravização que modelou resistências e posições políticas, da qual a experiência e a subjetividade fazem parte”. Professora da Universidade de Coimbra, em Portugal, Catarina Martins, que também é deputada municipal em Coimbra, exibiu um vídeo produzido em Angola por um grupo de jovens músicos que contesta o regime angolano. “Eles denunciam toda sorte de opressão, desigualdades e violência sofridas pelo povo de Angola. No entanto, as mulheres não surgem nesse vídeo, apesar de serem elas o pilar da cultura angolana, sendo que elas são ainda mais sofredoras”, frisou a professora, que buscou demonstrar como a mulher é ocultada. “É preciso resgatar essas mulheres dessa invisibilidade, conhecer sua história e, assim, contribuir para uma mudança real”, finalizou.
A mestra em crítica cultural, Deyse Sacramento, refletiu sobre a literatura produzida por mulheres negras. “O olhar das mulheres negras sobre a cultura é muito expressivo, porém sofre com uma invisibilização muito forte”, apontou, buscando demonstrar que esse “apagamento” tem raízes culturais. “Essa literatura, por ser comprometida em combater estereótipos e superar um modo de vida comumente tido como ‘padrão’, acaba, exatamente por essa combatividade, perdendo seu lugar de fala”, concluiu. A antropóloga feminista negra e pesquisadora do Coletivo Angela Davis da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB), Zelinda Barros fez uma abordagem histórica, discutindo como as questões relacionadas a esse segmento social foram discutidas ao longo da formação sociocultural brasileira. “A luta das mulheres sempre existiu. Com o movimento das mulheres negras, nos anos 60, houve alguns avanços, mas ainda é preciso mudar muita coisa”, destacou.
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