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06/03/2020 - 12:25
Redator:
George Brito (DRT-BA 2927)
Monotrilho no Subúrbio: Pesquisa aponta para prejuízo socioeconômico e da mobilidade de usuários do trem suburbano
Moradores do subúrbio ferroviário de Salvador, estudantes universitários e representantes de instituições da sociedade civil foram apresentados na tarde de ontem, dia 5, aos resultados da pesquisa de avaliação do impacto socioeconômico da tarifa do monotrilho projetado para ser instalado na região. Por meio de 1.053 questionários aplicados durante duas semanas em dezembro de 2019, o estudo traçou um perfil do usuário do sistema ferroviário da capital. Segundo a pesquisa, atualmente seis mil pessoas utilizam por dia a linha de trem entre as estações da Calçada e Paripe, sendo que 42% deles ganhavam, à época da pesquisa, menos que um quarto do salário mínimo e estavam abaixo da linha da pobreza. O perfil traçado aponta ainda que 90% dos usuários eram negros, 80% chegavam à estação do trem a pé e cerca de 70% afirmaram que deixarão de utilizar a linha ou reduzirão o uso após a mudança do modal.
A pesquisa foi realizada pelo Bákó Escritório Público de Engenharia e Arquitetura da UFBA, Ministério Público estadual e Tec&Mob, empresa que desenvolveu estudos sobre a implantação do metrô de Salvador. Segundo o estudo, o gasto mensal com transporte saltaria de R$ 20,00 para R$ 160,00, considerando duas viagens por dia útil (ida e volta) a tarifas de R$ 0,50 (do trem) e R$ 4,00 (monotrilho). Outro problema apontado é a remoção de 364 famílias no entorno das obras, previstas para começarem ainda neste mês, cujas indenizações estariam abaixo do valor do mercado imobiliário, causando problemas para que as famílias encontrem outro lar na mesma região.
Na audiência, a promotora de Justiça de Habitação e Urbanismo Hortênsia Pinho explicou que o estudo fundamentou ação civil pública ajuizada no último dia 4 de fevereiro em que pede à Justiça determinação judicial para que o serviço do trem não seja paralisado até que sejam apresentadas medidas compensatórias e mitigadoras do impacto socioeconômico da futura instalação do monotrilho, cujo projeto é de R$ 2,5 bilhões. Segundo a promotora, o contrato firmado entre o governo do Estado e o Consórcio Skyrail, composto pelas empresas BYD Brasil e Metrogreen, não previu medidas de compensação e desconsiderou qualquer impacto da perda de um trem que há 15 anos oferece acessibilidade e mobilidade para milhares de pessoas, por meio da tarifa de R$ 0,50. “No contrato, essas pessoas vulnerabilizadas foram esquecidas. Será uma tragédia social”, afirmou. Hortênsia Pinho informou que na ação indicou duas soluções mitigatórias que seriam o aumento do número de ônibus na linha intermunicipal entre Mapele e o Terminal da França, a uma tarifa diferenciada, enquanto a obra estiver em execução, e o subsídio a esses usuários socialmente vulneráveis depois de implantado o monotrilho.
A pesquisa foi apresentada pelos estudantes de Arquitetura e Urbanismo da UFBA e estagiários da Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo de Salvador Igor Bunchaft e Gabriel Gomes, responsáveis pela idealização e execução do estudo, que foi orientado e coordenado por professores da instituição de ensino, entre eles o professor Juan Moreno. Ele compôs a mesa que abordou e comentou os resultados da pesquisa, formada também por Gilson Vieira, do movimento Ver de Trem; Anemone Santos, representante da Rede de Catadores Cata Bahia; Daniel Colina, do Instituto de Arquitetos do Brasil na Bahia (IAB-BA); Jade Valente, do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura da Bahia (Crea-BA) e Renato Cunha, do Grupo Ambientalista da Bahia (Gambá) e do Fundo Socioambiental Casa, que financiou a pesquisa com custo de R$ 8 mil. O estudo contou com o apoio e participação de 54 voluntários selecionados na própria região do subúrbio ferroviário.
Fotos: Guilherme Weber / Rodtag Fotografias