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A desigualdade racial precisa ser combatida principalmente na infância
A desigualdade racial precisa ser
combatida principalmente na infância
A discriminação é um dos principais fatores que produz a desigualdade racial. Ela tem maior efeito na infância e na adolescência – quando o indíviduo está em formação –, devido ao comprometimento da formação escolar, e acaba propagando-se pela vida adulta, gerando a diferenciação nas oportunidades de trabalho, na faixa salarial, no valor da aposentadoria. Esta foi uma das ressalvas feitas pelo doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília e pesquisador do Centro de Pobreza Internacional, ligado à Organização das Nações Unidas/ Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (ONU/Pnudh), Rafael Guerreiro Osório, ao ministrar a disciplina “Grupos Vulneráveis: Crianças e Adolescentes, Idosos e Portadores de Deficiência” para os procuradores e promotores de Justiça do Ministério Público estadual, delegados e policiais militares que participam do Curso de Especialização em Direitos Humanos e Cidadania do Programa de Capacitação e Educação em Direitos Humanos (Procedh). As aulas começaram hoje, dia 15, e se estenderão até amanhã, dia 16, das 8h às 12h30, no Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional do MP (Ceaf), localizado na Rua Pedro Américo, nº 13, Jardim Baiano.
Para Rafael Osório, que é também técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), “as pessoas não devem ter vergonha de assumir seus preconceitos, pois somos educados para sermos preconceituosos, mas, ao tomarmos consciência disso, temos o dever de mudar nossos tradicionais comportamentos preconceituosos”. Ele afirma que a condição histórica da escravidão do negro se reflete até hoje na sociedade, “porque o Brasil tem um regime de baixa mobilidade social, ou seja, os filhos costumam permanecer na mesma posição dos pais”. “Com o passar do tempo, a situação entre negros e brancos tenderia a se igualar, mas a discriminação faz com que a margem de mudança ainda seja pouca”, acrescenta o sociólogo.
O palestrante defende a execução de ações mais efetivas para o cumprimento da Constituição Federal, “que é zelosa com relação à igualdade de oportunidades para todos os cidadãos”, assinalando que a primeira dificuldade diz respeito à escola pública, cujos investimentos são muito pouco produtivos. Rafael Osório exemplifica a situação informando que o que um pai gasta para manter um filho numa escola particular equivale ao custo de um aluno na escola pública, “só que há, entre as duas situações, um grande diferencial de qualidade”. Para o doutor em Sociologia, são necessários investimentos públicos significativos para a educação de crianças de 1 a 6 anos, com a oferta de creche e pré-escola de boa qualidade.
Rafael Osório refletiu também com o grupo sobre a falta de esforço da sociedade em incluir os deficientes. “A deficiência não está na pessoa que tem algum comprometimento no corpo ou na mente, mas na sociedade que é deficiente nas iniciativas e providências para incluí-la”.