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Diversidade religiosa não pode aprofundar discriminação
Diversidade religiosa não
pode aprofundar discriminação
Autoridades representantes dos três poderes, do Ministério Público estadual e da sociedade civil organizada reuniram-se hoje, dia 23, na sede do MP, para juntos reforçarem o coro de repúdio à intolerância religiosa. Todos eles participaram do ‘Seminário de Promoção do Respeito às Religiões e Combate ao Racismo”, promovido pelo MP por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate à Discriminação (Gedis), coordenado pelo promotor de Justiça Almiro Sena, que idealizou o encontro no sentido de colaborar para a construção de um debate que fortaleça a afirmação de que é preciso superar a crença de separação do povo em virtude da religiosidade. “A diversidade é uma virtude”, frisou ele, ressaltando que, entretanto, “é um absurdo vermos cidadãos de matrizes africanas continuarem a ser discriminados. Igualmente inaceitável é presenciarmos a intolerância aos evangélicos”.
Para o promotor de Justiça, o MP tem a obrigação de transmitir à sociedade a informação de que é necessário superar o momento de desagregação. A discordância pode até ser profunda, assinalou Almiro Sena, salientando que profundo também deve ser o respeito. É no sentido de promover essa consciência que o MP trabalha há 12 anos, lembrou o procurador-geral de Justiça Lidivaldo Britto, recordando que a Promotoria de Combate ao Racismo lutou e conquistou muito durante esses anos. Várias das pessoas que hoje aqui estão, lembrou ele, são testemunhas das demandas que chegaram ao MP e foram analisadas e resolvidas. A intolerância religiosa, complementou Lidivaldo, foi umas das questões combatidas pela Instituição, que iniciou processos criminais contra pessoas e programas televisivos que discriminavam religiões de matrizes africanas.
Lidivaldo Britto, que atuou durante nove anos na Promotoria de Combate ao Racismo, afirmou que, nos últimos anos, houve avanço considerável no respeito às religiões e à diferença de raças. Hoje a situação é mais propícia à tolerância devido a luta da população e da Promotoria, constatou ele, destacando que o movimento negro alcançou uma grande vitória com a reforma do Código Penal, pois crimes de injúria racista passaram a ser de ação penal pública condicionada, o que permitiu ao MP, além de apurar os casos, oferecer as denúncias e iniciar o processo criminal. Mesmo com tais conquistas, na opinião do promotor de Justiça de Valença Everardo Yunes, há uma cultura discriminatória enraizada neste país que precisa ser modificada. “Todos nós, somos formiguinhas reunidas com o intuito de reverter a direção na qual caminha a humanidade”, salientou ele, frisando que é preciso entender que a intolerância religiosa fere a dignidade da pessoa humana e causa o enfraquecimento dos próprios negros. “Quando brigamos por causa de religião, estamos fortalecendo o racismo”, concluiu Yunes.
Participando do seminário, prestigiado também por deputados estaduais, vereadores, pelo professor Samuel Vida, pelo pastor Rogério Miranda e pela macota Valdina Pinto, o secretário Municipal da Reparação, Ailton Ferreira, lamentou o fato de o Estado brasileiro “não ter sido construído para preto”. Segundo ele, há uma estrutura de poder real que precisa ser desmontada para se equilibrar as diferenças. “Nós não podemos assistir meninos negros morrendo diariamente como está ocorrendo”, clamou Ailton Ferreira, dizendo que isso é uma face do racismo, do sistema armado estruturado e racista.