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Debate sobre estética e identidade negra abre programação do ‘5º Seminário Biopolíticas e Mulheres Negras’
“Falar de estética negra é falar de poder. Estamos desconstruindo uma lógica eurocêntrica, ressignificando e transformando percepções construídas há 500 anos, onde a negritude foi estabelecida como sinônimo de feiura”, destacou a doutora em psicologia social e professora do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), Jaqueline Gomes de Jesus, durante o debate ‘Estética negra, identidade e representação social’, que aconteceu na manhã de hoje (24), na abertura da 5ª edição do seminário ‘Biopolíticas e Mulheres Negras’. Esse ano, por conta do distanciamento social em razão da pandemia do coronavírus, o seminário está sendo realizado no meio digital por meio da plataforma Microsoft Teams.
A mesa de abertura do evento contou com a presença da procuradora-geral de Justiça Norma Angélica Cavalcanti; do promotor de Justiça Edvaldo Vivas, coordenador do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos (CAODH); da promotora de Justiça Lívia Vaz e da cantora e compositora baiana Margareth Menezes. “Somos defensores da cidadania, democracia e dos direitos fundamentais, por isso é um prazer muito grande receber todos vocês para a realização desse seminário. No ano que se comemora dez anos da existência do Estatuto da Igualdade Racial, resolvemos criar um Grupo de Trabalho (GT) para elaboração de um programa de enfrentamento ao racismo nos quadros do MP”, destacou a PGJ Norma Angélica Cavalcanti. O promotor de Justiça Edvaldo Vivas falou sobre o empenho da Instituição nesse momento de pandemia na defesa dos direitos das mulheres, negros e população LGBT. “Todas essas discussões têm que passar pelo recorte de raça e gênero”, ressaltou.
A cantora Margareth Menezes relatou parte de sua história, desde o início da sua carreira até a criação do Movimento Afropop Brasileiro, e cantou a música ‘Alegria da Cidade’, um dos seus grandes sucessos. “As conquistas podem demorar para acontecer mas não podemos sucumbir ao não do outro. Fico muito feliz de participar desse evento e de compartilhar ideias com tantas mulheres que vêm ocupando espaços de destaque. Quando esse equilíbrio se estabelecer nos lugares de poder, teremos um país melhor para todas as pessoas”, afirmou.
O evento aconteceu um dia antes da data que se celebra o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha, 25 de julho, instituído pela ONU após um encontro realizado em 1992, onde se reconheceu que as demandas das mulheres negras são específicas por envolverem os fatores racial e de gênero. “Fico muito feliz de realizarmos esse evento nessa sexta-feira, pois amanhã também celebramos o dia nacional de Tereza de Benguela, uma mulher negra, heroína e que liderou uma resistência à escravidão”, destacou a promotora de Justiça Lívia Vaz. Tereza de Benguela lutou por uma forma de organização social e do trabalho, numa resistência ativa no quilombo de Quariterê, no estado do Mato Grosso, durante o século XVIII.
Além de Jaqueline Gomes de Jesus, a primeira mesa contou com a presença da designer de moda autoral Carol Barreto; da professora e advogada Manoela Alves, que é co-fundadora do coletivo Abayomi Juristas Negras, como debatedora; e das advogadas Zaira Castro e Camila Garcez, que foram mediadoras da mesa. Carol Barreto falou sobre seu trabalho com a coleção Asè, onde manifesta o protagonismo das mulheres negras nas religiões de matriz africana. “Nossa proposta é uma moda ativista como uma maneira insurgente. Precisamos aprender a ler as imagens e entender os discursos construídos nelas, para que a gente possa decodificá-las e expressarmos discursos mais intencionais”, destacou.
Esfera do Trabalho
A programação da manhã contou ainda com a mesa ‘Desigualdades de raça e gênero na esfera do trabalho’, que contou com a participação das jornalistas Flávia Oliveira, que também é comentarista da Globonews e colunista do jornal O Globo e da rádio CBN; e Luana Génot, mestra em relações étnico-raciais e fundadora/diretora do Instituto Identidades do Brasil (IDBR). “A crise do coronavírus acentuou uma crise sanitária que se espalhou para outras dimensões na sociedade. Há cerca de 8,9 milhões de brasileiros trabalhando remotamente, mas isso ainda é um privilégio branco e posto para poucos negros”, afirmou. Ela relatou ainda a grave crise social, que “à medida que se prolonga, tira a possibilidade de inserção das mulheres negras no mercado de trabalho”.
A fundadora do IDBR, Luana Génot, questionou a ausência de doações para as instituições brasileiras antirracistas durante a crise atual provocada pela pandemia do coronavírus. “Cadê as organizações doando para as instituições que lutam contra o racismo no país?”, questionou. Ela falou ainda sobre a importância de se discutir o conceito de raça para se combater o racismo na sociedade. A mesa contou também com a presença da procuradora do Trabalho em São Paulo, Elisiane Santos, que foi a debatedora; e da advogada, professora e pesquisadora, Maíra Vida, que mediou a mesa junto com a procuradora de Justiça do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, Jaceguara Dantas.