Você está aqui
Notícias
02/10/2019 - 11:23
Redator:
George Brito (DRT-BA 2927)
Pesquisadores apontam rumos a serem corrigidos no desenvolvimento urbano de Salvador
A forma como o desenvolvimento urbano de Salvador vem sendo realizado precisa mudar. Essa foi a mensagem mais marcante do segundo dia do seminário 'PDDU de Salvador: a discussão continua', realizado na tarde de ontem, 1º, no auditório da sede do Ministério Público estadual, bairro de Nazaré, em Salvador. O evento contou com a apresentação de dados, informações e argumentos de especialistas no tema que foram autores de artigos publicados no livro 'Salvador e os descaminhos do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano', lançado durante o seminário.
As urbanistas Laila Mourad e Thaís Rebouças mostraram como o governo municipal tem utilizado instrumentos urbanísticos como a Operação Urbanas Consorciadas (OUC) para realizar um “regramento de exceção” que, segundo as pesquisadoras, beneficiam apenas o mercado imobiliário e as parcelas menos numerosas da população com menor poder aquisitivo. Elas informaram que, no PDDU de 2016, foram previstas três OUCs, abrangendo um território de 3.839 hectares, muito superior ao espaço destinado às Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis), que abrangem apenas 106 hectares. As urbanistas também apontaram que, em fevereiro deste ano, a Prefeitura publicou o Decreto 30.799/2019, que regula a Transformação Urbana Localizada (TUL), um instrumento urbanístico novo não previsto pelo Estatuto das Cidades que prevê a (re) urbanização em áreas compreendidas em um raio de 800 metros a partir das estações dos sistemas de transportes. “Mais uma proposta de subtração de direitos das comunidades”, afirmou Laila Mourad. As especialistas disseram que é “preocupante” a criação da TUL, já que ela não prevê controle social de sua utilização.
As arquitetas Jussana Nery e Telma Moura abordaram as consequências do modo de urbanização da cidade para o clima urbano de Salvador. Elas destacaram que é preciso uma mudança de paradigma na maneria de construir cidades, que escape o modelo bidimensional tradicional, pouco sensível à “base viva do tecido urbano”, e abarque as multidimensões que uma cidade possui. Utilizando-se de uma metodologia de mapeamento do clima urbano, já aplicada em 36 cidades no mundo, as pesquisadoras chegaram a dados que mostram um aumento das temperaturas médias mínimas internas da capital baiana. “Nós, soteropolitanos, não temos ainda o DNA verde”, afirmou Tereza Moura.
O seminário contou também com a apresentação do arquiteto e urbanista Juan Delgado Moreno, doutor em Engenharia de Transportes. Ele abordou os impactos territoriais oferecidos pela distribuição da acessibilidade fornecida pela rede de transporte público da Região Metropolitana de Salvador (RMS), com ênfase no acesso aos empregos. O tema foi explorado por ele em artigo do livro, escrito junto com engenheira civil Jamille Brito. Segundo o pesquisador, há baixo desempenho do transporte coletivo de ônibus em regiões populosas e de baixa renda da RMS, enquanto a maior facilidade de acesso ao emprego se concentra nas áreas litorâneas da cidade, onde é baixa a demanda por transporte público.