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Feminismo negro e interseccionalidade são debatidos em ‘4º Seminário de Biopolíticas e Mulheres Negras’
Uma “oferenda analítica preparada pelas feministas negras”. Nesses termos a professora Carla Akotirene definiu hoje, 26, a interseccionalidade durante a conferência de abertura do ‘4º Seminário de Biopolíticas e Mulheres Negras’, realizado no Ministério Público estadual, em Nazaré. O evento, que em sua 4ª edição já se firma como um fórum de discussão e avaliação de questões raciais e de gênero, foi aberto ontem, 25, com um bate-papo no Pelourinho para marcar o ‘Dia Mundial da Mulher Negra, Latina e Caribenha’’.
Coordenadora do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos (Caodh), a promotora de Justiça Márcia Teixeira afirmou que cabe ao MP desenvolver iniciativas de capacitação da sociedade civil para o aumento da eficácia do controle social. “Essa é a proposta do evento, que pretende estimular a criação e o fortalecimento de redes de controle social”, destacou. Coordenadora dos Grupos de Atuação Especial dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis) e em Defesa da Mulher (Gedem), a promotora de Justiça Lívia Vaz, organizadora do encontro, destacou o papel da mulher negra nos espaços de poder. “É preciso conquistar o que é nosso por direito e assegurar que nenhuma das conquistas que já fizemos venha a ser prejudicada pelo atual cenário político”, ressaltou, no bate papo que contou com a participação das escritoras Joice Berth e Kiusam de Oliveira e da professora doutora Ana Célia da Silva.
Na palestra de hoje, a pesquisadora Carla Akotirene, autora do livro ‘O que é interseccionalidade’, definiu a metodologia como uma ferramenta teórica usada para pensar a “inseparabilidade estrutural do racismo, capitalismo e cisheteropatriarcado”. Na sua palestra, a pesquisadora explicou que as articulações que decorrem das relações de poder nas sociedades ocidentais expõem as mulheres negras mais do que qualquer outro grupo social. A professora, que é mestra e doutoranda em estudos sobre mulheres, gênero e feminismo pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), destacou a importância do feminismo negro como a principal estratégia para combater o sistema de opressão, discriminação e dominação vigente. “Não se pode falar em feminismo interseccional ignorando o paradigma afrocêntrico, nem tampouco combater o racismo com base num entendimento machista. É fundamental que se pense especificamente na discriminação que sofre a mulher negra, o que só pode ser feito levando em conta a intersecção das identidades de gênero e raça ao mesmo tempo”, salientou ela.
O seminário contou ainda com quatro mesas de debate. A doutora em biomedicina Joilda Nery falou sobre ‘as doenças negligenciadas e da pobreza têm cor’, a enfermeira Emanuelle Góes abordou ‘justiça reprodutiva e mulheres negras’, e a transativista e doutora em Saúde Coletiva e Filosofia, professora Fran Demétrio tratou dos ‘impactos do racismo na saúde de mulheres trans negras’. A professora Denise Carrascosa falou sobre ‘feminicídio e prisão’; a historiadora Luciana da Cruz Brito explanou sobre ‘mulheres negras e estratégias para sobreviver ao racismo’; e a pró-reitora para políticas afirmativas da Universidade Federal do Recôncavo Dyane Brito descreveu a ‘trajetória das mulheres cotistas negras’. Na última mesa do evento, a cantora e compositora Juliana Ribeiro abordou o tema ‘lugar de mulher é onde ela quiser: o deslocamento do lugar feminino’ e a escritora Kiusam Oliveira falou sobre ‘literatura negra-brasileira do encantamento’. O encontro contou ainda com diversas intervenções culturais de artistas e coletivos de mulheres negras.
Fotos: Rodrigo Tagliaro (Rodtag)
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