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MP promove Fórum Interdisciplinar para discutir saúde mental
Para fomentar o debate sobre saúde mental a partir das perspectivas das múltiplas atuações do Ministério Público estadual e garantir o acesso à Justiça às pessoas em sofrimento mental e suas famílias, o MP está promovendo a partir de hoje (2), o I Fórum Interdisciplinar em Saúde Mental. Formado por quatro jornadas, o Fórum é uma iniciativa dos Centros de Apoio Operacional à Saúde (Cesau), às Promotorias de Justiça Cíveis, Fundações e Eleitorais (Caocife), dos Direitos Humanos (Caodh), e da Criança e do Adolescente (Caoca). “Nosso objetivo é trazer o que cada centro de apoio pode contribuir para se discutir estratégias de atuação conjunta na área da saúde mental”, destacou a promotora de Justiça Leila Adriana Vieira Seijo de Figueiredo, coordenadora do Caocife. Ela dividiu a mesa virtual de abertura com os promotores de Justiça Tiago Quadros, coordenador do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (Ceaf), e Márcia Rabelo, coordenadora do Caoca.
A programação foi aberta com a palestra ‘Covid-19, isolamento social e saúde mental’, que foi ministrada pelo psicanalista da Associação Mundial de Psicanálise, Marcelo Veras, e teve como debatedoras as promotoras de Justiça Patrícia Kathy Medrado, coordenadora do Cesau, e Márcia Rabelo. O psicanalista falou sobre umas das características do mundo atual – a hiperconectividade, e como isso vem causando problemas mentais tais como ansiedade e frustração. “A hiperconectividade tornou a vida mais intensa. Geralmente a primeira coisa que as pessoas fazem ao acordar é esticar o braço e pegar o smartphone e provavelmente o último movimento do dia também será esse. Não nos desligamos e nos tornamos mais refratários às frustrações do que as outras gerações”, destacou Marcelo Veras, que também é psiquiatra e coordenador do programa de saúde mental e bem-estar da Universidade Federal da Bahia (UFBa).
Ele falou ainda sobre os problemas causados pelo uso excessivo das redes sociais e como se ‘glamourizou’ mostrar o íntimo por meio de fotos e vídeos postados na internet. Para o psicanalista, a tecnologia em si não pode ser considerada boa ou ruim, mas a forma que a utilizamos que pode ser prejudicial à saúde mental das pessoas. “Com os smartphones e as redes sociais, surgiu a selfie – que significa um grande movimento ao narcisismo. Ficamos cada vez mais reféns do olhar do outro e, muitas vezes, da aprovação de pessoas que sequer vimos pessoalmente. Também podemos ser ‘cancelados’ nas redes pois estamos sujeitos ao olhar permanente. Criamos um mundo do espetáculo e ‘vendemos’ a imagem de que o sucesso é o mais importante, e isso vem criando uma geração de frustrados”, ressaltou.
O psicanalista complementou que a noção de sucesso foi subvertida pela noção de se ‘mostrar o sucesso’ nas redes sociais. “Mas aí vamos perdendo os valores que realmente importam”. Outro ponto abordado na palestra foi o excesso de medicação, o que Marcelo Veras chama de ‘medicalização da existência’. Para ele é necessário um cuidado ao se fechar diagnósticos como a depressão pois, muitas vezes, se trata de estágios transitórios de tristeza. “A medicalização é inquietante. O excesso de anti depressivos, por exemplo, vai tirando da pessoa a possibilidade dela desenvolver outros mecanismos de defesa com relação à doença”, ressaltou.
O evento contou também com as palestras ‘Redes de Atenção Psicossocial no âmbito do Sistema Único de Saúde (Sus) – área técnica de saúde mental’, ligada à Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), com a coordenadora das redes de atenção à saúde psicossocial da diretoria de atenção à saúde da Sesab, a psicóloga Marianna Luiza Alves Soares Santos. “O público alvo da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) são pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso do crack, álcool e outras drogas”, afirmou. Ela falou também sobre as diretrizes do RAPS que incluem o combate a estigmas e preconceitos; a atenção humanizada e centrada na necessidade das pessoas; a diversificação das estratégias de cuidado; o desenvolvimento de estratégias de redução de danos; e a promoção ações que promovam a educação permanente.
A psicóloga Marianna Luiza Alves Soares falou sobre a coordenadoria das redes de atenção à saúde psicossocial, ligado à diretoria de atenção à saúde da Secretaria Municipal de Saúde. O evento contou com a mediação dos promotores de Justiça Edvaldo Vivas, coordenador do Caodh; e os gerentes do projeto ‘Saúde Mental’, Ricardo Menezes Souza, Thaianna Rusciolelli e Carlos Robson Oliveira Leao. O Fórum continuará nos dias 16, com o tema ‘Capacidade civil sob enfoque da Lei de Inclusão da pessoa com deficiência, autonomia, curatela e tomada de decisão apoiada’; no dia 23 com o tema ‘Acesso à Justiça e à cidadania: estratégias para o acolhimento das pessoas em sofrimento mental e suas famílias’; e no dia 30, quando haverá o lançamento do guia de apoio funcional para garantia da atenção em saúde mental das crianças e adolescentes em uso abusivo de substâncias psicoativas.
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