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Seminário debate inclusão escolar e protagonismo do aluno com deficiência
A necessidade de acolher todos os alunos com deficiência e propiciar a eles a realização das mesmas avaliações que os demais estudantes foi uma das principais questões apresentadas durante o 'II Seminário Todxs por uma Educação Inclusiva’, realizado hoje, dia 30, no auditório do Ministério Público estadual, em Nazaré. Na abertura, a procuradora-geral de Justiça Ediene Lousado destacou a importância de uma sociedade inclusiva. “A educação precisa trabalhar a inclusão, contando com uma rede de apoio, que vai da capacitação dos professores à integração com alunos, profissionais de saúde e da sociedade de um modo geral”, disse a PGJ, que destacou a participação de pessoas com deficiência no seminário. Totalmente traduzido em Libras, a Língua Brasileira de Sinais, o evento teve como mestre de cerimônias a estudante Débora Gil, que tem síndrome de Down, e como recepcionistas outros quatro alunos da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).
O objetivo principal do evento foi conscientizar a sociedade que “todas as escolas são para todos os alunos”, destacou a promotora de Justiça Cíntia Guanaes, coordenadora do projeto ‘Todas as Escolas são Para Todas as Crianças’, acrescentando que é preciso esclarecer a Política Nacional da Educação Inclusiva. “Todos os meninos que têm deficiência têm o direito de estar na escola regular como todos os alunos”, registrou ela, sinalizando que, “por vezes, as próprias escolas e educadores enxergam deficiências onde não existem, num processo conhecido hoje como patologização da educação”. Coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa da Educação (Ceduc), o promotor de Justiça Valmiro Macêdo destacou a importância do seminário no processo de interiorização da educação inclusiva. “Hoje, em Salvador, o projeto está posto, o trabalho do MP é proativo para garantir esse direito”, salientou o coordenador, acrescentando que o trabalho será feito agora nas regionais, que receberão as cartilhas elaboradas pelo Ceduc, as notas técnicas do Ministério da Educação e Cultura (MEC) e as recomendações dos conselhos de educação. “Nossa meta é formar ainda melhor nossos promotores do interior para que o que hoje fazemos em Salvador se torne uma realidade em toda a Bahia”, concluiu.
Professora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade da Universidade de Campinas (Unicamp), a doutora Maria Teresa Egler Mantoan disse que a ideia de que existe um modelo ideal de aluno e educação está superada. “O sujeito se constrói em sua diferenciação. Não há mais espaço para distinções dentro de uma sala de aula. Os paradigmas mudaram e não dá mais para voltar atrás”, frisou. A professora afirmou ainda que acolher os alunos com suas singularidades passa por respeitar o seu direito de ser “igual, enquanto diferente”. “Ninguém é igual. Todos somos singulares. O aluno com deficiência deve estar nas mesmas salas que os alunos convencionais da mesma idade que ele”, disse ela, acrescentando que “a forma como esses alunos são acompanhados dentro de muitas escolas ditas inclusivas está errada”. Para a doutora Mantoan, “alunos com deficiência não devem ter cuidadores que os controlem e retenham dentro de sala de aula. O correto é que os professores e alunos saibam lidar com eles e exerçam esse papel naturalmente, caso contrário, eles nunca estarão de fato incluídos e capacitados para viver em sociedade”. A professora acrescentou ainda que o correto é que esses alunos enfrentem “um ambiente desafiador, como o que vão encontrar na vida, com currículos escolares iguais, provas iguais, atendidas as suas necessidades”. Mantoan afirmou que o tratamento adequado inclui tecnologia assistiva que quebre barreiras tecnológicas, como textos em braille, aulas em Libras e leitor de tela, por exemplo. “Conteúdo adaptado para aluno com deficiência é um conceito ultrapassado e a raiz da discriminação dentro do próprio sistema educacional. Isso precisa acabar e somos nós que estamos dando os passos nesse sentido”, concluiu.
Exemplificando as ideias apresentadas pela professora Montoan, a segunda palestrante do dia foi a funcionária da Ford, Criselde Brito Santos. Ela, que tem paralisia cerebral, enfrentou todos os processos convencionais de capacitação em cursos, estágios até ser contratada para atuar como Clerk, um intermediário entre a linha de produção e o setor de Recursos Humanos da empresa, na Ford. “Não podemos desistir dos nossos sonhos por causa das nossas dificuldades. Nada é fácil para ninguém. Nossas dificuldades são somente diferentes”, disse ela, acrescentando que é preciso lutar, contando com a sociedade. “Não para termos favores, mas para termos direitos. As deficiências e os deficientes ainda são desprezados e ignorados por muitos, mas há quem acredite em nós, como esses professores, esses promotores de Justiça, e empresários como os que me contrataram e me respeitam”. Para dar um exemplo da importância de persistir diante das dificuldades, ela usou o exemplo da educação. “Foi muito difícil me educar. Há obstáculos, barreiras, preconceirto. Mas a minha mãe jamais desistiu por isso e hoje eu estou aqui. Se ela conseguiu e eu consegui, todos podemos conseguir”, concluiu.
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